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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Meu Forte é aqui

Outro dia me peguei observando uma foto e, consequentemente, as sensações que ela produzia em mim. A princípio me passou uma certa paz, silêncio, bem-estar. Daí resolvi ir mais além e pensei: engraçado é o fato dessa imagem causar tantas sensações, mas o que se esconde por trás desse silêncio, dessa paz? Primeiro convêm mostrar a foto:



Essa é a foto da minha cidade, um belo pôr do sol a beira mar e um daqueles dias em que vale a pena parar e apreciar um espetáculo desses...e de graça!
Então, o que está por trás desse silêncio?
Por trás desse silêncio e dessa paz que desperta os mais belos sentimentos, está o caos. O calor. Barulho. Poluição. Turistas andando a beira mar. Prostitutas. Camarão no Mucuripe. Jangadas em alto mar. Navios de carga. Efeito dominó no paredão de edifícios que engolem a brisa e transformam todo o resto em inferno. Cerveja gelada e barata no Benfica. Emos na praça Portugal demarcando território. Samba aos domingos no Zé bezerra, cheio de corpos em movimento e bocas sedentas por mais um gole, mais um beijo, mais um acorde. Tem até Cachorra no pré-carnaval, que de tão bom que era ficou pop da mesma forma que o Papa e entrou em órbita, ou melhor, saiu.
Nessa cidade de aparentes desilusões. Tem caranguejo as quintas e Lions de vez em quando, na ilustre presença solitária da Rachel de Queiroz, observando tudo muito bem sentada na praça onde os reis da selva viraram pedra. Tem tocas que escondem diversidades, sejam elas javalis, sejam elas plácidos regados a um bom vinil que passeia pelo melhor da música de qualidade ou um javali que coloca todos para dançar com Sidney Magal, ou mesmo Lady Gaga; onde o cheiro de enxofre daquele inferninho da lugar ao cheiro de suor e cigarro. Tem um Betão que de dia é vulgar, mas a noite é cult, demodê, clichê. Tem um passeio que é público, mas não é para qualquer um, lá imagem é quase tudo e dinheiro é tudo mesmo, pode até abraçar o baobá, mas não pode levar para casa. Tem uma Praia do Futuro que é bom e sem futuro. Tem uma praia que é de Iracema, ou pelo menos era, antes dela sair de lá como todos os outros e ir reinar na bica do Ipú.
Nessa cidade tem de tudo e para todos os gostos. Tem os ousados que preferem Acaracuzinho, os que preferem Papicu, os tímidos que apostam na Varjota, os tarados por Paupina e as aves que aqui gorjeiam, gorjeiam melhor do que as de lá.
Eu moro nessa cidade, onde velho e novo se misturam, onde vamos e voltamos todos dias, onde o sol é sempre quente e as pessoas também. É nessa cidade onde o mar está sempre a nos abraçar e a lua a sorrir , que eu fiz o meu ninho, que eu vivo meus amores e meus pesadelos, que eu posso sorrir e chorar deixando minhas lágrimas rolar e cair na xícara de café preto, e assim, beber o café com gosto de sal, observando o pôr do sol nessa Fortaleza que me habita, que habito, que fez dentro de mim um lar.