Outro dia me peguei observando uma foto e, consequentemente, as sensações que ela produzia em mim. A princípio me passou uma certa paz, silêncio, bem-estar. Daí resolvi ir mais além e pensei: engraçado é o fato dessa imagem causar tantas sensações, mas o que se esconde por trás desse silêncio, dessa paz? Primeiro convêm mostrar a foto:
Essa é a foto da minha cidade, um belo pôr do sol a beira mar e um daqueles dias em que vale a pena parar e apreciar um espetáculo desses...e de graça!
Então, o que está por trás desse silêncio?
Por trás desse silêncio e dessa paz que desperta os mais belos sentimentos, está o caos. O calor. Barulho. Poluição. Turistas andando a beira mar. Prostitutas. Camarão no Mucuripe. Jangadas em alto mar. Navios de carga. Efeito dominó no paredão de edifícios que engolem a brisa e transformam todo o resto em inferno. Cerveja gelada e barata no Benfica. Emos na praça Portugal demarcando território. Samba aos domingos no Zé bezerra, cheio de corpos em movimento e bocas sedentas por mais um gole, mais um beijo, mais um acorde. Tem até Cachorra no pré-carnaval, que de tão bom que era ficou pop da mesma forma que o Papa e entrou em órbita, ou melhor, saiu.
Nessa cidade de aparentes desilusões. Tem caranguejo as quintas e Lions de vez em quando, na ilustre presença solitária da Rachel de Queiroz, observando tudo muito bem sentada na praça onde os reis da selva viraram pedra. Tem tocas que escondem diversidades, sejam elas javalis, sejam elas plácidos regados a um bom vinil que passeia pelo melhor da música de qualidade ou um javali que coloca todos para dançar com Sidney Magal, ou mesmo Lady Gaga; onde o cheiro de enxofre daquele inferninho da lugar ao cheiro de suor e cigarro. Tem um Betão que de dia é vulgar, mas a noite é cult, demodê, clichê. Tem um passeio que é público, mas não é para qualquer um, lá imagem é quase tudo e dinheiro é tudo mesmo, pode até abraçar o baobá, mas não pode levar para casa. Tem uma Praia do Futuro que é bom e sem futuro. Tem uma praia que é de Iracema, ou pelo menos era, antes dela sair de lá como todos os outros e ir reinar na bica do Ipú.
Nessa cidade tem de tudo e para todos os gostos. Tem os ousados que preferem Acaracuzinho, os que preferem Papicu, os tímidos que apostam na Varjota, os tarados por Paupina e as aves que aqui gorjeiam, gorjeiam melhor do que as de lá.
Eu moro nessa cidade, onde velho e novo se misturam, onde vamos e voltamos todos dias, onde o sol é sempre quente e as pessoas também. É nessa cidade onde o mar está sempre a nos abraçar e a lua a sorrir , que eu fiz o meu ninho, que eu vivo meus amores e meus pesadelos, que eu posso sorrir e chorar deixando minhas lágrimas rolar e cair na xícara de café preto, e assim, beber o café com gosto de sal, observando o pôr do sol nessa Fortaleza que me habita, que habito, que fez dentro de mim um lar.
pensei em ler alguma mágoa, mas nem pessimista nem otimista é! nem é apaixonado, o cego. é coisa de quem ama mesmo, q vê além das mazelas!
ResponderExcluirpois num é
ExcluirMuito bom o texto Mr president!! Adorei! ;)E estou muito feliz de estar de volta, para Fortaleza e para vocês!
ResponderExcluirQue delicia de leitura, onde sensibilidade e sensatez se alternam.
ResponderExcluirAfinal numa mesma boca, dá pra sentir o amargo e o doce.
Fortaleza, desprezada cidade natal, um dia ainda volto a morrer de amores por vc!
Abraço mui fraterno, Rafa Moreira.
Chorei! É, chorei.
ResponderExcluirE agora, o que tira de mim o engodo de estar longe, mas estar em cada palavra? O engodo da saudade sustentada pela visão de que não há tempo ou espaço, só há. Só é.
Se um dia eu puder conhecer Fortaleza, quero que seja contigo!
Tem um pouco da nossa história nessa imagem, nessa cidade. O silêncio é a hora da lembrança e a lembrança traz pra mais perto cada um que passou para lá e para cá, que se foi para alguma terra distante, mas que ficou na nossa vida. Eu sei que eu tb estou aí nesse texto, nesses lugares, no movimento dessa cidade que eu amo e sinto tanta falta junto com você, meu amigo.
ResponderExcluirEu fico feliz de sentir também saudade, porque ela dá significado a tudo.
É verdade, minha amiga.
ExcluirA saudade dar cor a dor! E nem sempre dói!
Chega logo!
Beijos.
Amei esse texto! Define de um jeito maravilhoso e real nossa cidade tão linda, problemática, calorosa e que nunca sairá de nós.
ResponderExcluirÉ a Fortaleza que cresce em nós, minha amiga!
Excluiré coisa de amor mesmo... desses que se aceita as dificuldades, mas ama e sente muita saudade !! ufa...
ResponderExcluirÉ coisa de amor mesmo, você disse tudo!!
ExcluirMuito bom, um retrato real da cidade fantástica e desengonçada q é Fortaleza
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