Sempre tive vontade ler Clarice,
mas entre ter vontade e passar ao ato...andou. Até porque vontade dá e passa. Me
angustiava o fato de não conseguir lê-la, minha angústia mora exatamente aí.
Eu fico potencializando Clarice
há tanto tempo, ouço todos os meus amados citarem essa diva, fazerem referências
a trechos da obra x, da obra y e eu não consigo ler Clarice.
Outro dia, chegou em minhas mãos
o livro A maçã no escuro da Clarice,
muito recomendado que eu lesse e que depois daquela leitura eu teria outra
impressão sobre ela e sua escrita singular. Conclusão: não consegui ler
Clarice! Comi a maça e fiquei no escuro!
Meu aniversário foi semana
passada, um encontro lindo entre amigos queridos que saíram dos seus lares para
me abraçar no dia de São Valentim. Recebi alguns regalos cheios de carinho. Quando chega umas das minhas queridas e
me presenteia com um livro. Opa, um livro!!! Felicidade Clandestina, da
Clarice.
Passados exatos uma semana do meu
ano novo, eu me pego olhando para este livro todos os dias. Fico pensando onde
é o calcanhar de Aquiles. Até porquê eu sofro bullying todas as vezes que ouso
dizer, numa roda de conversa, que não consigo ler Clarice. Mas o interessante é
que ninguém nunca perguntou sobre o meus motivos, e eu vou sempre tentando me justificar
para não ficar “mal visto” no seio dos maiores críticos literários de plantão:
os amigos. Onde todo mundo tem uma opinião formada sobre tudo, risos.
Mas, voltemos ao que interessa, as minhas conclusões acerca desse fato. Ler Clarice mexe muito
comigo, a escrita dela me perturba. Ela passeia por um plano que eu ainda não
consigo conceber, por pensamentos, por desejos, por lugares que eu não sei se
conseguiria transcrever para as folhas de papel da forma como ela fez.
Eu não consigo ler Clarice porque
ela é Grande! As sensações que ela provoca em mim antecedem a sua leitura. A
Felicidade Clandestina está ao alcance dos meus olhos, sei que ainda vamos
namorar por mais um tempo, como um ritual de preparação para perder a
virgindade e tornar aquele momento único.
Me aguarde, Clarice!!! Depois do
seu debut dentro de mim, eu quero me
sentir:
“Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a
andar, com a boca infantilizada pela surpresa.” (Clarice Lispector –
Felicidade Clandestina – Perdoando Deus)
Texto: Ma Vie
Texto: Ma Vie