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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

RESISTÊNCIA


      Olá, eu sou um LGBTQIA+ que trabalha num emprego tradicional ou faço um curso voltado para uma área ainda tradicional.

      Nessa era de mídias sociais e glamourização constante da vida, estamos acostumados a encontrar uma representatividade enorme de gente como a gente em empregos e carreiras que proporcionam uma maior liberdade de expressão, principalmente voltados para a área criativa. É lindo imaginar que todo mundo é aquela pessoa que posta foto semi nude, tem cabelo colorido e trampa tatuando, ou aquele designer que faz freela e tem um canal de jogos no YouTube. Mas...nem todo mundo é assim.
Na realidade, muitos LGBTQIA+ estão em empregos tradicionais, ou seja, os LGBTQIA+ do direito, da contabilidade, das finanças, da administração, da engenharia, da economia, e por aí vai.

     Nós encaramos meios ainda marcados por um patriarcalismo e machismo que muitas vezes nem velados são, ocupamos espaços e fazemos as coisas andarem e girarem, muitos de nós sofrem diariamente a Lgbtfobia desse tipo de ambiente (quando se é estagiário é pior ainda), é trancar rede social, é se isolar por medo de reações negativas, é sempre ser a pessoa a falar menos da vida pessoal nas confraternizações, e por aí vai.

    Quando você fala que curso X ou Y é "coisa de hétero", esquece que a representatividade em TODOS os espaços é uma forma de resistência.

      O gay da voz afeminada que tá coordenando uma equipe de um projeto de engenharia.

    A moça trans que tem que desenvolver habilidades monstruosas em Excell para se manter no escritório onde está estagiando.

      A moça lésbica que tem que analisar casos de violência contra a mulher numa delegacia.
    LGBTQIA+ não é apenas glitter e foto conceitual no insta, é também terno, gravata e encarar reunião desconfortável da firma.

      E isso não pode ser esquecido.

Texto maravilhoso de Lucas Kovski (instagram: @gatooperario)

Fazia bastante tempo que não postava nada por uma série de fatores. Ao ler o texto do Lucas, eu me senti representado. Em tempos onde os representados pelos discursos fascistas vomitam seus racismos, homofobias, misoginias e ódio, muito ódio, poder ler algo dessa natureza fortalece a nossa luta.
Devemos e temos a obrigação de ocupar esse lugar de fala,  termo muito usado pela filósofa Djamila Ribeiro para caracterizar as condições de poder que legitimam ou negam o acesso de certos grupos a lugares de cidadania.
Tenho estado distante, lendo, pensando, aprendendo a viver nesse novo contexto social de um pseudo conservadorismo, falso moralismo, hipocrisia generalizada, índices de violência alarmantes, entre outras tantas mazelas que poderia citar.
Tenho estado adoecido, procurando no meio do caos ressignificar as relações em diversos ambientes para poder continuar seguindo de cabeça erguida por acreditar na força da luta de igualdade, respeito e amor.


Mulheres Empilhadas - Patrícia Melo (Dica de leitura)



Mulheres empilhadas é uma obra de ficção, mas todas as personagens desse livro existem de fato. As protagonistas dessa história são as mulheres. Todas elas: as já feitas e as meninas, as gordas e as magras, as negras e as pardas, as indígenas e as descendentes de imigrantes, as analfabetas e as com grau universitário. Nesse romance intenso, que se lê de um fôlego só e que acompanha a trajetória pessoal de uma advogada, Patrícia Melo fala sobre a matança sistemática de mulheres no Brasil, que atinge democraticamente todas as classes sociais.
Na trama, a jovem advogada paulistana, tentando fazer as pazes com seu próprio passado, larga tudo e vai ao Acre acompanhar um mutirão de julgamentos de casos de mulheres assassinadas na maioria das vezes por homens conhecidos – pais, tios, avôs, maridos, namorados, ex-maridos. Enquanto vê passarem diante dos seus olhos os mais diversos casos de violência contra a mulher, a protagonista descobre um país onde a impunidade se impõe quase como uma lei.
Intercalada à narrativa principal, precisa e realista, Patrícia constrói capítulos oníricos, inspirados na lenda das icamiabas, tribo de guerreiras amazônicas que lutam contra os homens opressores. Nesse mundo paralelo, a advogada e as icamiabas formam uma sociedade de mulheres que perseguem, julgam e matam os criminosos que escapam da justiça na vida real.
Guiada por rituais ancestrais dos povos indígenas e chocada com a violência ao seu redor, a personagem mistura presente e passado, realidade e pesadelo, razão e delírio. Sua busca pessoal acaba por impulsionar outras tragédias, e novos crimes se juntam à trama. Dessa imensa pilha de cadáveres, no entanto, ela será capaz de resgatar seu próprio enigma.
Com Mulheres empilhadas, seu primeiro romance de temática e protagonismo femininos em 25 anos de literatura, Patrícia Melo contraria a letra do funk que já nos embalou nas pistas de dança, e mostra, com seu humor voraz, suas frases precisas ou alucinógenas e seu estilo inconfundível, que só um tapinha… às vezes dói demais.
(http://leya.com.br/mulheres-empilhadas/)