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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Navegante e o Que Foi

Seu Que Foi e Dona Navegante moravam na beira do mar, longe de tudo e perto de quase nada. Tinham muito pouco, mas o pouco era do tanto que lhes cabiam nos bolsos.
Seu Que Foi amava Navegante e adorava navegar nas curvas daquele corpo cansado de beira de mar. Era tanto sol, que a pele escorria pelas carnes e a rugas denunciavam que morar sob as areias da praia era como viver num deserto de sal.
Dona Navegante era mulher de força, cuidava do lar enquanto o Que Foi trazia o sustento do além mar. Ela esperava que ele voltasse para que a vida continuasse. Naquele vilarejo de casas onde o vento açoita sem piedade as paredes de barro batido, tudo era brisa, tudo era luz e calor.
Era noite quando o velho Que Foi retornava, cansado de colocar força muita e banhar a vela já desbotada da jangada, ele trazia uma cesta cheia de pequenos cadáveres prontos para a cremação e degustação. Buchos cheios, Navegante e Que Foi se sentam na varanda para contemplar aquela multidão de pontinhos luminosos na imensidão de céu, e a brisa abranda a vida na terra onde esquecer é sobrenome.
Os velhos cansados dormem juntos e conchinham, por que em terra onde tem conchas pra pisar na beira-mar, os casais dormem sempre a conchinhar.
Amanhece e o astro rei acende as luzes daquela morava encantada. O velho Que Foi se prepara para fazer seu ritual de penetrar o mar mais uma vez. Navegante fica na janela a espreitar a jangada indo, indo, indo, desaparecendo naquele fim de mundo azul.
Era noite, nada do velho retornar da escudirão. Navegante aflita, pensa que é muito mar pra uma jangada pequenina voltar.
A jangada não voltou, dessa vez o mar não deixou. O velho Que Foi se foi para além do mar. Será que virou peixe ou comida de peixe?
Navegante agora passa os dias a navegar, sem caís, sem lar, só mar...a esperar o Que Foi uma dia voltar.
Amém!
  
Escrito por Ma Vie

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

terça-feira, 16 de julho de 2013

O Corpo Utópico

"Talvez seria preciso dizer também que fazer o amor é sentir seu corpo se fechar sobre si, é finalmente existir fora de toda utopia, com toda a sua densidade, entre as mãos do outro. Sob os dedos do outro que te percorrem, todas as partes invisíveis do teu corpo se põem a existir, contra os lábios do outro os teus se tornam sensíveis, diante de seus olhos semi-abertos teu rosto adquire uma certeza, há um olhar finalmente para ver tuas pálpebras fechadas. Também o amor, assim como o espelho e como a morte, acalma a utopia do teu corpo, a cala, a acalma, a fecha como numa caixa, a fecha e a sela. É por isso que é um parente tão próximo da ilusão do espelho e da ameaça da morte; e se, apesar dessas duas figuras perigosas que o rodeiam, se gosta tanto de fazer o amor é porque, no amor, o corpo está aqui."

* Fragmento do texto O Corpo Utópico de Michel Foucault

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Pai Nosso do Meu Amor (Por Você)

Pai nosso que estais onde tiveres de estar.
Santificado seja esse sentimento que me preenche e me trasborda.
Que venha o meu Amor ao nosso reino e que seja feita a Tua vontade.
Tanto no meu dormir, como no meu acordar...ao seu lado.
Nos dai hoje o beijo e o caloroso regaço de cada dia.
Perdoa as minhas faltas, assim como perdoá-lo-ei.
Livrai-nos das tentações e de todos os males.
Livrai-nos do olhar invejoso do curioso.
Cegai o olho gordo do desgostoso.
Porque quando a Felicidade é baixinha,
*"Ninguém ouve... ninguém vê...ninguém..."

Amém!

(Marcos MaVie)

* Trecho do poema "A Minha Dor" de Florbela Espanca.