Seu Que Foi e Dona Navegante moravam na beira do mar, longe de tudo e perto de quase nada. Tinham muito pouco, mas o pouco era do tanto que lhes cabiam nos bolsos.
Seu Que Foi amava Navegante e adorava navegar nas curvas daquele corpo cansado de beira de mar. Era tanto sol, que a pele escorria pelas carnes e a rugas denunciavam que morar sob as areias da praia era como viver num deserto de sal.
Dona Navegante era mulher de força, cuidava do lar enquanto o Que Foi trazia o sustento do além mar. Ela esperava que ele voltasse para que a vida continuasse. Naquele vilarejo de casas onde o vento açoita sem piedade as paredes de barro batido, tudo era brisa, tudo era luz e calor.
Era noite quando o velho Que Foi retornava, cansado de colocar força muita e banhar a vela já desbotada da jangada, ele trazia uma cesta cheia de pequenos cadáveres prontos para a cremação e degustação. Buchos cheios, Navegante e Que Foi se sentam na varanda para contemplar aquela multidão de pontinhos luminosos na imensidão de céu, e a brisa abranda a vida na terra onde esquecer é sobrenome.
Os velhos cansados dormem juntos e conchinham, por que em terra onde tem conchas pra pisar na beira-mar, os casais dormem sempre a conchinhar.
Amanhece e o astro rei acende as luzes daquela morava encantada. O velho Que Foi se prepara para fazer seu ritual de penetrar o mar mais uma vez. Navegante fica na janela a espreitar a jangada indo, indo, indo, desaparecendo naquele fim de mundo azul.
Era noite, nada do velho retornar da escudirão. Navegante aflita, pensa que é muito mar pra uma jangada pequenina voltar.
A jangada não voltou, dessa vez o mar não deixou. O velho Que Foi se foi para além do mar. Será que virou peixe ou comida de peixe?
Navegante agora passa os dias a navegar, sem caís, sem lar, só mar...a esperar o Que Foi uma dia voltar.
Amém!
Escrito por Ma VieSeu Que Foi amava Navegante e adorava navegar nas curvas daquele corpo cansado de beira de mar. Era tanto sol, que a pele escorria pelas carnes e a rugas denunciavam que morar sob as areias da praia era como viver num deserto de sal.
Dona Navegante era mulher de força, cuidava do lar enquanto o Que Foi trazia o sustento do além mar. Ela esperava que ele voltasse para que a vida continuasse. Naquele vilarejo de casas onde o vento açoita sem piedade as paredes de barro batido, tudo era brisa, tudo era luz e calor.
Era noite quando o velho Que Foi retornava, cansado de colocar força muita e banhar a vela já desbotada da jangada, ele trazia uma cesta cheia de pequenos cadáveres prontos para a cremação e degustação. Buchos cheios, Navegante e Que Foi se sentam na varanda para contemplar aquela multidão de pontinhos luminosos na imensidão de céu, e a brisa abranda a vida na terra onde esquecer é sobrenome.
Os velhos cansados dormem juntos e conchinham, por que em terra onde tem conchas pra pisar na beira-mar, os casais dormem sempre a conchinhar.
Amanhece e o astro rei acende as luzes daquela morava encantada. O velho Que Foi se prepara para fazer seu ritual de penetrar o mar mais uma vez. Navegante fica na janela a espreitar a jangada indo, indo, indo, desaparecendo naquele fim de mundo azul.
Era noite, nada do velho retornar da escudirão. Navegante aflita, pensa que é muito mar pra uma jangada pequenina voltar.
A jangada não voltou, dessa vez o mar não deixou. O velho Que Foi se foi para além do mar. Será que virou peixe ou comida de peixe?
Navegante agora passa os dias a navegar, sem caís, sem lar, só mar...a esperar o Que Foi uma dia voltar.
Amém!
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