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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Há muito mais entre o amor e o ciúme do que uma simples traição...

Catherine Millet gostava de se entregar aos homens. Teve muitos, principalmente em grupos, com a conivência de seu marido. Ela publicou sua experiência num best-seller chamado: A vida sexual de Catherine M., em 2001. Já o esperado sucessor desse relato picante foi surpreendente: chama-se Dia de sofrimento (no Brasil, só em 2009) e narra as dores que sentia, consumida pela angústia da descoberta dos encontros do marido com suas sucessivas amantes. Não se trata de hipocrisía da parte dela nem de cegueira relativa aos seus próprios atos, ela acredita que assumir "uma sexualidade muito livre não nos impede de cair na armadilha assustadora do ciúme e não nos protege de antemão contra a dor que a acompanha".
O ciúme, como bem o prova Catherine, não tem nada a ver com atos nem fatos, faz parte do amor, é fruto das nossas inseguranças mais triviais. Num ataque de ciúme, ficamos obcecados, privados do controle, porque quem dirige a cena é o desespero. A vida perde completamente o sentido, só nos interessa saber se aquilo aconteceu, com quem, quantas vezes, onde. Quanto mais nos aproximamos da mórbida descrição da cena trágica, mais nos movemos em sua direção.
O amor que nos é dedicado faz parte das nossas posses e cuidamos dele como da própria pele! Por isso, se o perdermos, só nos ocorre que ele está nas mãos de outra pessoa, não pode simplesmente desaparecer. Na imagem daquela pessoa que seria o novo alvo desse amor, que antes era nosso, buscamos nos mirar. O que ela tem que eu não tenho?
Objeto de desejo
Mas não é só disso que se nutre essa possessão: a fidelidade não é isenta de tentações, estas se traduzem em fantasias, sonhos eróticos, não necessariamente em atos. Freud explicava que a falta de intimidade com essas tentações, quando não estamos dispostos a admiti-las, produz o aspecto projetivo do ciúme. São esses pensamentos que se amontoam na porta - quando não é admitida sua entrada - que produzem o ciúme projetado, onde os próprios desejos são atribuídos, quer como feitos ou fantasias, ao companheiro. É ele que leva a culpa dos desejos que não admitimos sentir. Desconfie do ciumento: é ele quem está de olho na cerca!
Há ainda outro elemento que compõe o estado de espírito que nos leva a vasculhar bolsos, celulares, e-mails, Orkuts, a travar diálogos detetivescos com amigos. É uma parte difícil de explicar: o aspecto homossexual do ciúme entre os heterossexuais. As insistentes indagações na verdade são em torno da pessoas com quem estaríamos sendo traídos, poís ela nos fascina, ela é o objeto de desejo. É como ela que quero ser quando crescer! Sempre brinco com aquele a quem amo a respeito disso, poís nunca coincidimos em nossos interesses: as mulheres de quem eu fico ciumenta não são aquelas que ele acha atraentes, são as que interessam a mim! É nelas que vejo a mulher de verdade que nunca saberei ser e é nele que projeto minha admiração e meu desejo por elas. Como se vê, há muito mais entre o amor e o ciúme do que uma simples traição...
Texto escrito por: Diana Corso
Publicado na revista TPM em 2008.

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