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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A TERRÍVEL DÚVIDA DAS APARÊNCIAS

Da terrível dúvida das aparências,

da incerteza afinal de que possamos estar iludidos,

de que talvez a confiança e a esperança não sejam afinal senão especulações,

de que talvez a identidade para além do túmulo seja apenas uma linda fábula,

de que talvez as coisas que observo, os animais, plantas, homens, colinas, águas brilhantes a fluir,

o céu do dia e da noite, cores, densidades, formas, talvez tudo seja (como sem dúvida é) apenas aparições, e a coisa real ainda esteja por conhecer

(quão frequentemente se desligam de si mesmas como se para me confundir e zombar de mim!

quão frequentemente penso que não sei nem homem nenhum sabe nada a respeito delas),

talvez me parecendo aquilo que são (como sem dúvida parecem) no meu presente ponto de vista e podendo revelar-se depois (como naturalmente poderiam) como não sendo nada daquilo que parecem, ou nada enfim, a partir de pontos de vista totalmente diferentes;

para mim essas e outras questões semelhantes são de algum modo respondidas pelos meus amantes, meus queridos amigos,

quando aquele que eu amo viaja comigo ou se senta segurando longamente minha mão,

quando o ar sutil, o impalpável, o sentido que as palavras e a razão não detêm, nos cercam e nos perpassam,

então me sinto invadir por uma sabedoria indizível, inaudita, e fico em silêncio, e não me falta mais nada,

não posso resolver a questão das aparências ou a da identidade para além do túmulo,

mas caminho ou me sento, indiferente, e estou satisfeito;

ele, a segurar minha mão, me satisfez completamente.

WALT WHITMAN

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Fragmentos de mim mesmo por Caio F. Abreu VII


"No turvo seco de uma casa esvaziada da presença de um dragão, mesmo voltando a comer e a dormir normalmente, como fazem as pessoas banais, você não sabe mais se não seria preferível aquele pântano de antes, cheio de possibilidades - que não aconteciam, mas que importa? - a esta secura de agora. Quando tudo, sem ele, é nada."

Eu, Museu.


Vem, encosta tua cabeça no meu calor e deixa eu velar teu sono...

Eu, Museu.
Eu, Passado.

Eu lembro de apreciar teu sono indefeso, entregue aos sonhos, aos anjos, a mim...
Melhor ainda era ver teus olhos abrirem ao amanhecer e sorrir em silêncio...
Ver teu rosto iluminar o meu, sentir teu calor...
Te trazer uma xícara de café quente...
E depois, o cigarro matinal anunciava que o dia tinha terminado de começar para você...

Eu deixava você ir...
Eu deixava você voltar quando a noite caísse...

Desde aquele dia, eu acordo sozinho...
O sol raiando lá fora e é sempre noite aqui dentro...
Agora a cama é tão grande quanto o abismo que me separa de hoje...
E continuo ontem...

Quem sabe, amanhã possa ser ontem de novo...
Quem sabe, eu sinta novamente o cheiro da xícara de café...
Quem sabe, eu não sinta medo do escuro...
Quem sabe, eu não sinta nada...

Eu, Passado.
Eu, Museu.
(Marcos Ma Vie)

"Mas também, as vezes, a Noite é outra: sozinho, em postura de meditação (será talvez um papel que me atribuo?), penso calmamente no outro, como ele é: suspendo toda a interpretação; o desejo continua a vibrar (a obscuridade é transluminosa), mas nada quero possuir; é a noite do sem proveito, do gosto sutil, invisível: Estoy a escuras: eu estou lá, sentado simples e calmamente no negro interior do amor."
(Roland Barthes: Fragmentos de um discurso amoroso)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Em busca do tempo perdido


Eu fico me lembrando daquele dia que você disse que não tinha jeito da gente ficar junto, Marcel. Lembro como senti alívio de saber que você estava gostando de outra pessoa e que eu finalmente estava livre de você, daquele sentimento escravizante. A gente não nasceu pra ficar junto mesmo.

Eu sei, na hora que a gente se reencontrou eu não quis ficar com você, é verdade, por que quando você queria ficar comigo e foi sincero, já era tarde demais, eu tinha mudado. Só eu sei como foi difícil ficar longe, como eu já estava acostumada a ter você por perto. Você dividia comigo o sorvete e o peso das relações frustradas que tínhamos vivido. Aquele nosso ensaio de namoro foi só mais um, mas eu não conseguia fingir, como você queria, que era só sua amiga. A gente precisava se afastar.

Eu gostava de deitar a cabeça no seu ombro, quando estava ao seu lado e gostava de sentir aquela coisa familiar que se perdeu faz tempo, mas que pareço, cabeça no ombro, por um instante recuperar.

Hoje eu rio, mas na época eu sofria, por que você estava comigo e com as outras, então aprendi te tratar de um jeito que tanto faz. Nunca foi vingança, nem maldade... Só indiferença. A gente fica um tanto indiferente quando aprende a desamar. A gente ficou machucado um do outro. E eu acho tudo isso super descabido de dizer agora, depois de tanta mágoa, mas eu queria me curar.

Hoje eu sei que todo mundo carrega uma dor, por isso fica louco, ressentido, vira bandido, ou vítima. Hoje em dia, eu respeito cada um carregando a sua dor atravessando a Paulista.

Eu nem sei por que estou dizendo tudo isso por telefone... Faz tanto tempo que a gente não se fala, mas o que eu queria mesmo era o telefone da Bárbara. O Gustavo vai dar uma festa na casa de praia dele e eu quero perguntar se posso ir com ela.

(DEISE ANNE RODRIGUES DE SOUZA)

P.S.: Eu me encontro em cada cantinho desse texto, só não me pergunte onde...

Deise, te amo! Te ler é sempre um dos melhores presentes!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Dreaming my dreams!



"Eu tive um sonho, vou te contar..."


Pode ficar tranquilo, eu não me atirava do oitavo andar.


Apenas sonhei que ontem não era um passado tão distante,


Sonhei que nem tudo era dor, rancor...


Sonhei e deu pra sentir o cheiro! Ahhh, cheiro da terra molhada depois da primeira rajada de chuva, cheiro da pele sem perfume, do suor impregnado e do gosto salgado na língua.


Sonhei que os olhos se encontravam de novo e em silêncio sorriam, um sorriso tímido. Silenciosamente belo...