Da terrível dúvida das aparências,
da incerteza afinal de que possamos estar iludidos,
de que talvez a confiança e a esperança não sejam afinal senão especulações,
de que talvez a identidade para além do túmulo seja apenas uma linda fábula,
de que talvez as coisas que observo, os animais, plantas, homens, colinas, águas brilhantes a fluir,
o céu do dia e da noite, cores, densidades, formas, talvez tudo seja (como sem dúvida é) apenas aparições, e a coisa real ainda esteja por conhecer
(quão frequentemente se desligam de si mesmas como se para me confundir e zombar de mim!
quão frequentemente penso que não sei nem homem nenhum sabe nada a respeito delas),
talvez me parecendo aquilo que são (como sem dúvida parecem) no meu presente ponto de vista e podendo revelar-se depois (como naturalmente poderiam) como não sendo nada daquilo que parecem, ou nada enfim, a partir de pontos de vista totalmente diferentes;
para mim essas e outras questões semelhantes são de algum modo respondidas pelos meus amantes, meus queridos amigos,
quando aquele que eu amo viaja comigo ou se senta segurando longamente minha mão,
quando o ar sutil, o impalpável, o sentido que as palavras e a razão não detêm, nos cercam e nos perpassam,
então me sinto invadir por uma sabedoria indizível, inaudita, e fico em silêncio, e não me falta mais nada,
não posso resolver a questão das aparências ou a da identidade para além do túmulo,
mas caminho ou me sento, indiferente, e estou satisfeito;
ele, a segurar minha mão, me satisfez completamente.
WALT WHITMAN