Vem, encosta tua cabeça no meu calor e deixa eu velar teu sono...
Eu, Museu.
Eu, Passado.
Eu lembro de apreciar teu sono indefeso, entregue aos sonhos, aos anjos, a mim...
Melhor ainda era ver teus olhos abrirem ao amanhecer e sorrir em silêncio...
Ver teu rosto iluminar o meu, sentir teu calor...
Te trazer uma xícara de café quente...
E depois, o cigarro matinal anunciava que o dia tinha terminado de começar para você...
Eu deixava você ir...
Eu deixava você voltar quando a noite caísse...
Desde aquele dia, eu acordo sozinho...
O sol raiando lá fora e é sempre noite aqui dentro...
Agora a cama é tão grande quanto o abismo que me separa de hoje...
E continuo ontem...
Quem sabe, amanhã possa ser ontem de novo...
Quem sabe, eu sinta novamente o cheiro da xícara de café...
Quem sabe, eu não sinta medo do escuro...
Quem sabe, eu não sinta nada...
Eu, Passado.
Eu, Museu.
(Marcos Ma Vie)
"Mas também, as vezes, a Noite é outra: sozinho, em postura de meditação (será talvez um papel que me atribuo?), penso calmamente no outro, como ele é: suspendo toda a interpretação; o desejo continua a vibrar (a obscuridade é transluminosa), mas nada quero possuir; é a noite do sem proveito, do gosto sutil, invisível: Estoy a escuras: eu estou lá, sentado simples e calmamente no negro interior do amor."
(Roland Barthes: Fragmentos de um discurso amoroso)
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