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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Para você: minha caixinha de surpresa.

A vida é mesmo uma caixinha de surpresas!
Eu sempre imaginei encontrar uma pessoa que me desse conforto, que me trouxesse paz, que me aceitasse como eu sou.
De repente, num dia despretensioso, a vida te coloca no meu caminho e você não era nada disso. Você era bem diferente.
Você era de longe!!!
Eu nunca imaginei, que daquele dia em diante eu iria voar, flutuar, sonhar!
Voar de encontro ao amor!!!
Você, além de conforto, me trouxe a inquietação de fazer nascer um novo modo de pensar.
Além da paz, você me trouxe um mundo novo, cheio de grandes descobertas, cheio de lugares mágicos, de montanhas, cachoeiras, serração, friozinho com vinho, ladeiras históricas, pessoas maravilhosas e abraços intermináveis.
Com você, tenho aprendido ricos ensinamentos e a grandeza de perceber que a minha filosofia precisava ser pensada com olhos mais maduros.
Com você, eu tenho aprendido que nem toda distância é ausência e que Confins não é o fim do mundo.
Hoje, eu poderia simplesmente te dizer para você continuar sempre assim, para nunca mudar. Mas digo o oposto, digo para mudar e continuar mudando minha vida, me fazendo sempre melhor.
 Te amo cada vez mais, cada vez de um jeito novo!

by Ma Vie


sábado, 15 de fevereiro de 2014

Chapeuzinho Vermelho morta a pauladas

Li no jornal a notícia sobre uma menina, 11 anos de idade, morta a pauladas em Maracanaú. Tinha nome de gente, mas a chamavam de “Preá”. Por coincidência, um dos “trocentos” apelidos de rua que ganhei no tempo de eu menino. Talvez por causa das orelhas de abano ou porque fui um menino miúdo, ligeiro.

Pois bem, a vidinha invisível da mirrada Gerlândia Santos Medeiros valia quase nada pra cidade. Vale uma biografia. Daquelas que nenhum homem público – prefeito, governador, vereador, deputado, senador, presidente da República – poderia deixar de ler, reler e ruminar. 

Poderia ser mais. Uma narrativa, conto de fadas às avessas para crianças, pais e professores. Onde, no final, o dragão destroça o pai, a mãe, dois irmãos e a mocinha. Mais ou menos assim: “Branca de Neves morta a pauladas”. Ou então: “Rapunzel, dependente de crack, foi executada”.

Ou talvez: Gerlândia Santos Medeiros, também conhecida por Chapeuzinho Vermelho, “foi vista com vida pela última vez, por volta das 22 horas da terça-feira, quando passou de bicicleta nas proximidades das casas de parentes”. 

No capítulo seguinte, intitulado “Viciada aos 11”, a avó paterna de Preá, a aposentada Maria Hilda Medeiros, contou que a netinha era praticamente moradora de rua. “Ela me disse que começou a fumar ‘pedra’ quando tinha nove anos”.

Pois foi. Preá nem sempre dormia em casa. Perambulava sozinha e só saía com alguém, um lobo talvez, quando ia fumar crack. Em 2010, Paulo Sérgio dos Santos Medeiros, pai de “Chapeuzinho Vermelho”, foi assassinado por traficantes que lhe atazanavam dívidas. 

Nos anos seguintes, 2011 e 2012, dois irmãos de Chapeuzinho também seriam executados. A mãe? Também se foi. A menina, por último, só tinha a vovozinha que mal sabia dela.

Essa história, real e absurda, é da semana retrasada. Queria que fosse inventada. A notícia de Gerlândia não para de rodar nos meus olhos.

Gerlândia, Preá ou Chapeuzinho Vermelho do Maracanaú, existia há apenas 11 anos quando lhe tiraram a infância. Tempo de quase dois governadores e dois prefeitos. Fizeram o quê pelos dias da menina, do pai dela, da mãe e dos dois irmãos? E nós daqui, da Aldeota, também necas.

Um conto de crueldade que no fim, mais uma vez, os traficantes ficam por aí e o bairro nunca é devolvido para os aldeões. E eles voltarão a roubar miolos de histórias.

... Era uma vez uma menina invisível que só souberam de sua existência quando ela morreu a vida dela mesma.

Tinha tudo para ser uma princesa, gostava de bonecas, ganhar chocolate, entrar na internet, visitar a avó e levar comidinhas pra ela a pedido da mãe. Mas, um dia, em um de seus caminhos pelo Maracanaú, um lobo muito mal, muito mal lhe atalhou...

Este foi o texto que quis vir. Até tentei outros, mas só veio este. Miúda biografia da menina que nunca deram importância.

Até outro domingo.

DEMITRI TÚLIO é repórter especial e cronista do O POVO, demitri@opovo.com.br

O Amor


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

ODE ÀS (T) ALMAS I


Betty topava tudo. Topava 50tinha, chupetinha, arranhão. 
De quatro, de oito, de graça. [[de graça? Nunca!]]
Ativa. Passiva. Totalmente liberal. 
Betty topava tudo. Maricona, mariquinha, casal pseudo-hétero, fetichista.
Bicha casada, bicha solteira, bicha velha, bicha nova. 
Travequeiro, T-Lover, pornografia, pornochanchada. 
Estudante bêbado, transfóbico, homofóbico, vidafóbico.
Taxista machista, fetichista, sensacionalista. 
Cafetina louca, mona louca, mona de porre, drogadita, drogadona. 
Tudo louca, devassa, travessa!
Todas perturbadas, assanhadas, destruídas. 
Todas Almas, todas Vidas, todas desgraçadas, açoitadas, marginalizadas. 
Betty topava tudo. Anticoncepcional, Perlutan, Androcur, terapeuta, fonoaudiólogo, silicone industrial, bundão, peitão, corpão, cirurgião, clandestinão, Paraguayão. 
DST, AIDS, HIV.
Aquendar a neca, fazer a chuca, 2 anos de SUS, 5 anos de SUS, 20 anos de SUS, 
nome social, nome civil, nome da puta que pariu. 
Pai filho da puta, Mãe filha da puta, Irmão filho da puta, Irmã filha da puta, Tio filha da puta, Tia filha da puta, Avô filho da puta, Avó filha da puta, Primo filho da puta, Prima filha da puta, Sobrinho filho da puta, Sobrinha filha da puta, Orfanato filho da puta Mundo filho da puta.
Betty topava tudo. Avião, Tailândia, concurso de Miss, vagina recém-feita, marido porta afora 
Betty topava tudo. Rejeição Suicídio Sujeição Agressão Depressão
Betty topava tudo. 
Betty topava com a Vida, com o Amor, com o Ódio, com Deus, com o Diabo. 
Betty topava tudo. Betty era Vida, Betty era Poesia. Betty era Betty E não João ou Ricardo ou Pedro Henrique ou Leonardo ou Maykon ou André ou Daniel Ricardo Martins da Fonseca. Betty era Betty e 
Betty topava tudo.

Texto de Alexander Brasil (Poema em homenagem ao Dia Nacional da Visibilidade Trans - 29 de Janeiro)