Li no jornal a notícia sobre uma menina, 11 anos de idade, morta a pauladas em Maracanaú. Tinha nome de gente, mas a chamavam de “Preá”. Por coincidência, um dos “trocentos” apelidos de rua que ganhei no tempo de eu menino. Talvez por causa das orelhas de abano ou porque fui um menino miúdo, ligeiro.
Nos anos seguintes, 2011 e 2012, dois irmãos de Chapeuzinho também seriam executados. A mãe? Também se foi. A menina, por último, só tinha a vovozinha que mal sabia dela.
Essa história, real e absurda, é da semana retrasada. Queria que fosse inventada. A notícia de Gerlândia não para de rodar nos meus olhos.
Gerlândia, Preá ou Chapeuzinho Vermelho do Maracanaú, existia há apenas 11 anos quando lhe tiraram a infância. Tempo de quase dois governadores e dois prefeitos. Fizeram o quê pelos dias da menina, do pai dela, da mãe e dos dois irmãos? E nós daqui, da Aldeota, também necas.
Um conto de crueldade que no fim, mais uma vez, os traficantes ficam por aí e o bairro nunca é devolvido para os aldeões. E eles voltarão a roubar miolos de histórias.
... Era uma vez uma menina invisível que só souberam de sua existência quando ela morreu a vida dela mesma.
Tinha tudo para ser uma princesa, gostava de bonecas, ganhar chocolate, entrar na internet, visitar a avó e levar comidinhas pra ela a pedido da mãe. Mas, um dia, em um de seus caminhos pelo Maracanaú, um lobo muito mal, muito mal lhe atalhou...
Este foi o texto que quis vir. Até tentei outros, mas só veio este. Miúda biografia da menina que nunca deram importância.
Até outro domingo.
DEMITRI TÚLIO é repórter especial e cronista do O POVO, demitri@opovo.com.br
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